Sunday, November 25, 2007

leituras

"Abri as cortinas, subi os estores (duas longas pálpebras de borracha violeta que pestanejaram, enrolando-se no seu eixo), escancarei as janelas, Théo enfiou-se na cama, junto de Hervé, e a cena imobilizou-se na luz crua do dia.
- Quem é este gajo? – perguntou Hervé, protegendo os olhos com a mão. – Um ciumento?
Nem ele imaginava quão certo estava. Ao vê-los na cama, extenuados por quarenta e oito horas de desbunda amorosa, suados, de cabelos colados à testa, com aquele brilho nos olhos e o coração palpitante, pensei em Julie… Tão mal que eu a amara desde a formação daquela copronuvem!... Estava ciumento, sim senhor, do recorde que aqueles dois julgavam ter estabelecido, como se eu e Julie não fôssemos capazes de perder doze quilos em dois dias, até sentirmos os nossos corpos pesar toneladas! Como se também nós não soubéssemos espalhar pelo quarto muito mais peças de roupa! Como se nunca tívessemos cimentado os lençóis de prazer e saturado o ar daquilo de que somos feitos! Como se também nós não tivéssemos a intenção de nos matarmos de amor! Como se alguma vez tivéssemos imaginado um outro fim…"

in A Paixão Segundo Thérèse de Daniel Pennac.

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